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Amazônia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral

Atualizado: 4 de fev. de 2020


Dom José Belisário | Arcebispo metropolitano de São Luís

Até 1985, eu conhecia a Amazônia só através de livros. Em dezembro de 1985, esse conhecimento saiu dos livros e se tornou experimental. Juntamente com um colega, fui convidado a permanecer alguns dias na prelazia de Coari, durante os quais prestamos algumas assessorias. Foi um choque. Lembro-me bem do estranhamento. O calor, os insetos, as distâncias, a magnitude do rio Solimões, a beleza e o tamanho dos lagos de águas claras, mas principalmente, o contato com as pessoas. O bispo era dom Gutemberg Freire Régis, um redentorista amazonense que fora nomeado sete anos antes com apenas 38 anos de idade. Por ocasião da assembleia diocesana, pude conhecer as demais lideranças da prelazia. Os padres, na maioria redentoristas, sendo alguns estadunidenses; as irmãs religiosas, muitas provenientes do sul do país; e os leigos e leigas, que compunham a maioria na assembleia. Mal desconfiava eu que, anos mais tarde, eu seria nomeado para uma região pertencente à Amazônia legal brasileira.

A Igreja católica está presente na Amazônia desde a chegada dos primeiros colonizadores europeus, no século dezesseis. Até sua expulsão em 1779, marcante foi a presença dos jesuítas. Foi a partir das missões, por eles iniciadas, que foram fundadas as mais antigas cidades da região, como por exemplo, Santarém, Porto de Mós e outras. Com a Proclamação da República e a consequente queda do regime do padroado, a Igreja local passou por um reflorescimento. Várias ordens e congregações, provenientes da Europa e da América do Norte, se estabeleceram na região.

O documento final da Conferência de Aparecida, em 2007, dedicou alguns parágrafos à evangelização da Amazônia. Em 2013, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude, no encontro havido com os bispos brasileiros, o Papa Francisco acentuou a importância da Amazônia. Nas palavras dele, o que acontecer à Amazônia é “relevante para o caminho atual e futuro não só da Igreja no Brasil, mas também de toda a estrutura social”. No dia 15 de outubro de 2017, o Papa Francisco anunciou a convocação de um Sínodo Especial para a Amazônia. Desde então, deu-se início a um processo de escuta sinodal que começou na própria região amazônica com a visita do Papa a Puerto Maldonado-Peru, em 19 de janeiro de 2018.

Para não cairmos em equívocos e deixar as coisas transparentes a respeito deste sínodo, o próprio Papa Francisco tem feito algumas afirmações esclarecedoras.

Em primeiro lugar, ressalta o Papa, o sínodo é filho da Laudato Sì. “Quem não a leu jamais entenderá o Sínodo sobre a Amazônia. Essa encíclica não é uma encíclica verde, mas uma encíclica social baseada no cuidado da Criação”. Ao mesmo tempo, é um “Sínodo urgente”. Efetivamente, o Papa se diz chocado com o que está acontecendo no Planeta – em 29 de julho passado, conforme informação de dados científicos, os humanos já tinham consumido todos os recursos regeneráveis para o ano de 2019.

O Sínodo não será tampouco uma “reunião de cientistas ou de políticos. Não é um parlamento: é outra coisa. Nasce da Igreja e terá missão e dimensão evangelizadora. Será um trabalho de comunhão conduzido pelo Espírito Santo”. Os temas importantes são os que dizem respeito aos “ministérios da evangelização e aos vários modos de evangelizar”, explica o Papa. Fique claro também que a questão dos viri probati, isto é, a possibilidade de se ordenarem homens maduros e casados, é um dos assuntos a ser abordado. Não é, porém, um dos temas centrais.

O título oficial do documento preparatório – Amazônia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral – resume bem a proposta do Sínodo. São duas as preocupações – os novos caminhos a serem trilhados pela Igreja e a importância da Amazônia para a sobrevivência do planeta.

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