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A condição humana e a busca da verdade no interior do ser político:

Atualizado: 30 de out. de 2022

Elementos de uma análise de conjuntura


O Filósofo e matemático alemão, Friedrich Ludwig Gottlob Frege, em um manuscrito de 1897 sobre a introdução à lógica, aponta de maneira muito pascaliana que o predicado "ser verdadeiro" não nos diz nada sobre o que está em questão. "Digamos que uma representação é verdadeira se for adequada à realidade. E o autor imediatamente objeta: “Não teríamos ganho nada então. Porque, para aplicar este critério, seria necessário poder decidir se, em cada caso, uma representação está de fato em adequação com a realidade. Em outras palavras: se fosse verdade que a representação estava de acordo com a realidade, seria, portanto, necessário pressupor o definido em sua definição. Frege conclui que só se pode abordar a verdade, como os outros termos primos, de modo indireto: "A verdade é manifestamente algo tão originário e tão simples que é impossível. A verdade é, portanto, da ordem do “pressuposto”: o que se diz, a verdade já está dita quando qualquer coisa é dita. Há em todo discurso “um pressuposto de verdade”, em alemão, o Wahrheitsvoraussetzung, que é o pressuposto de “objetos” sui generis, do “verdadeiro” e do “falso”.


Frege encontra aqui a intuição pascaliana sobre a impossibilidade de definir os primeiros princípios estabelecendo “uma ordem absolutamente consumada”. Mas, não é pensando apenas na geometria que Pascal escreve: "Assim, empurrando cada vez mais a pesquisa, chegamos necessariamente a palavras primitivas que não podem mais ser definidas, e a princípios tão claros que não encontramos mais nada para servir de prova...


Deste princípio, partimos deste postulado de Gottlob Frege para entendermos a dimensão política no atual estágio da realidade brasileira. Procurando fazer um recorte de análise de conjuntura com os atores políticos do processo, nos deparamos com o primeiro elemento da condição humana de “homo loquens”, o homem como ser de linguagem. Ele constrói o seu mundo, suas relações, seu espaço por meio da linguagem. Ora o mundo político, especialmente partidário, nos faz a ver e nos faz crer que a verdade já está dita quando qualquer coisa é dita.


Dentro dos labirintos da “verdade”, Frege nos ajuda a entender que o que é dito é uma construção social da realidade elaborada para justificar interesses, para isso precisa-se de pressupostos de verdades para legitimação do ordenamento do discurso. Não obstante, deste princípio, muito próximo da lógica aristotélica de aceitar premissas, de maneira sutil, somos levados a crer na existência de uma realidade. Às vezes esta realidade não existe ou é ilusória.


A partir desta orbita, atualmente, a condição de homem político está situado na esfera de dois postulados tendo em comum a construção de uma narrativa: um que constrói uma verdade proclamada sob o efeito da repetição, até ser internalizada pelo imaginário coletivo como fato real; outro que utilizando os mesmos mecanismos, não consegue poder de persuasão e, para um público comum, não consegue ser diferente diante da opinião pública.


O fato é que uma análise de conjuntura exige muito cuidado. Pois as complexidades que atravessamos, tanto no Mundo como no Brasil, e nas dificuldades inerentes a apontar, de pronto, as causas e as consequências como se fossem resultantes apenas das ações políticas e econômicas. Mas, existe mecanismos invisíveis no interior de cada campo que torna o tecido de complexidade ainda mais intenso para a compreensão das partes e do todo. Há no fato social, um conjunto de fenômenos que se interrelacionam no interior do campo de maneira direta e indireta.


Considerando a fragilidade de evidenciarmos qualquer explicação plausível, vamos transformando-as em percepções acerca dos desafios e dos temas que surgem sempre em torno de uma ética comum, que consiste em compreender para transformar em torno do mesmo objetivo: o serviço e a postura da Igreja Católica em um mundo que nos exige cada vez mais.

Um olhar existencial nos faz ver que em âmbito mundial, temos de um lado o crescimento das desigualdades, de outro, o crescimento de um universo de diferentes valores, recursos, meios de produção tecnológicos que estão extremamente concentrados em um núcleo rentista transnacional acompanhado de um ideal de mérito e eficácia descrito por quem são os “ganhadores” deste modelo. Há uma combinação de antigos elementos, feitos de relações de dominação brutal e de discriminações raciais, sociais, sexuais, culturais, econômicas e políticas, com outros mais novos: uma sacralização da propriedade privada e a estigmatização dos “perdedores” de forma muito mais extrema que em outras etapas da globalização. Tudo isto se dá em um contexto em que os avanços do conhecimento e de novas tecnologias, a mudança dos paradigmas produtivos, do uso de inteligências e suas modalidades, bem como a velocidade das redes sociais, assim como a diversidade decorrente das criações culturais, poderiam permitir um progresso social sem precedentes. Mas, há mais uma questão que é determinante: a erosão da dimensão democrática! A democracia, que vive uma turbulência mais recente.


O fenômeno que era latente e agora ficou manifesto e ganhou protagonismo nestas eleições: o papel preponderante da religião. O voto católico poderá garantir a vitória de Lula em 2022, o voto evangélico a vitória de Bolsonaro no dia 30 de outubro/2022. Neste campo há uma guerra de narrativas que por um lado tem escapado do universo racional e tem entrado mesmo na esfera de Fakes News.


Por um lado, há uma repetida construção de narrativa para pejorar o candidato Luís Inácio Lula da Silva: de ser ladrão, corrupto, a favor do aborto, comunista, defensor da ideologia de gêneros, de fechar os templos religiosos etc. Por outro lado, há uma parcela significativa de militância que vê no candidato Jair Messias Bolsonaro como: negligente durante a pandemia, desumano, insinuador de ódio, apoiador de milicianos, corrupto, incivilizado, xenófobo, racista, misógino, etc


O fato é que nestas eleições, como premissas de construção de uma verdade partidária, a religião, de maneira manifesta, tem sido muitas vezes instrumentalizada pelos partidos políticos, notadamente no Círio de Nazaré em Belém do Pará e no Santuário de Nossa Senhora Aparecida em São Paulo.


Os interlocutores destas narrativas tem procurado fazer o discernimento para detectar a ordem da posição das premissas de cada uma das verdades, de uma representação do que seja verdadeira e adequada à realidade. Atualmente, este constitui o grande dilema para aquisição da verdade no interior do ser político.


Dom Francisco Lima Soares

Bispo da diocese de Carolina (MA),

Coordenador do grupo de Análise de Conjuntura da

Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e referencial para

Pastoral da Educação, Cultura, Ensino Religioso e CPT.

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