O arcebispo de São Luís, e referencial da Pascom Maranhão, dom José Belisário da Silva, dedica mensagem à Pastoral da Comunicação do Regional Nordeste 5, da CNBB.
Dom José Belisário da Silva
Arcebispo Metropolitano de São Luís do Maranhão
Bispo referencial para a Comunicação no Maranhão
Dedico este texto a todas as pessoas que fazem parte da Pastoral da Comunicação-PASCOM. Para tal, tenho dois motivos. Primeiro, porque no Domingo da Ascensão do Senhor celebra-se mais um Dia Mundial das Comunicações Sociais; e, segundo, em agradecimento ao trabalho maravilhoso que essa pastoral está realizando nestes tempos difíceis de Covid-19. Foi graças à dedicação e à assessoria da PASCOM que paróquias e comunidades não se dispersaram, mas puderam, embora virtualmente, fazer suas celebrações e animar-se mutuamente.
O Papa Francisco, como nos anos anteriores, nos sugere um tema para o Dia Mundial das Comunicações – “Para que possas contar e fixar na memória (Ex 10,2). A vida se faz história”.
O Papa começa dizendo em sua mensagem que a pessoa humana é um ente narrador. Lembrei-me, então, de um poema cujo autor é um poeta modernista, conterrâneo do Papa.
Tres cabezas hermanas
Y una donde hay nevado la luna.
Un cuento más, abuela,
Que mañana no hay escuela.
- Pues, señor, este era el caso…
Las tres cabezas hermanas
Cayeran como manzanas maduras en el regazo.
O poema descreve uma cena bucólica – uma avó, com sua cabeça tingida de branco pelo luar, e três netinhos, antes de se recolherem para dormir. As três crianças pedem à sua avó: “Vovó, conte-nos mais uma história, porque amanhã, não vai haver aula”. A avó atende o pedido: “Bem, o caso é o seguinte...”. Mal ela começa, porém, a contar a história, o que acontece? “As três cabeças irmãs caíram como maçãs maduras no seu regaço”.
A pessoa humana, diz o Papa, não só é o único ser que precisa de vestuário para cobrir a própria vulnerabilidade (cf. Gn, 3,21), mas também é o único que tem necessidade de narrar-se a se mesmo, de revestir-se de histórias para guardar a própria vida. Infelizmente, porém, nem todas as histórias são boas. Muitas del as são falsas ou pretensamente verdadeiras. São histórias que despojam a pessoa humana de sua dignidade. Basta lembrarmo-nos daquela conversa mole do velho inimigo, a serpente, o mais astuto dos animais: “Se comerdes, sereis como Deus” (Gn 3,4). Numa época em que a falsificação atinge níveis exponenciais – não se trata mais de fakenews, diz o Papa, mas de deepfakes, isto é, de mentiras profundas e exponenciais –, precisamos de sabedoria para apoiar e criar narrações belas, verdadeiras e boas e ter coragem para rejeitar as narrativas falsas e depravadas.
A Sagrada Escritura é uma História de histórias. No centro dela, está Jesus que falava de Deus, não com discursos abstratos, mas com parábolas, breves narrativas tiradas da vida cotidiana. Os Evangelhos, diz a mensagem do Papa, “não por acaso são narrações”. E essas narrativas não são “um patrimônio do passado; é a nossa história, sempre atual. Mostra-nos que Deus tomou a peito o humano, a nossa carne, a nossa história, a ponto de Se fazer humano, carne e história”.
Quem tem o ponto final da história humana, não somos nós. Há um grande Narrador que quer que sejamos protagonistas e atores de nossa história. “Sim, diz o Papa, porque ninguém é mero figurante no palco do mundo, a história de cada um está aberta a possibilidades de mudança”.
A Pastoral da Comunicação tem uma bela e grande missão – contar histórias boas: “histórias que edifiquem, e não as que destroem; histórias que ajudem a reencontrar as raízes e a força para prosseguirmos juntos”.
“PASCOM, conte-nos mais uma história...”
Neste tempo de provação pelo qual passa da história humana, podemos repetir como aquelas três crianças: “PASCOM, conte-nos mais uma história...”. Sim, pois a vida continua. Depois dessa quarentena, retomaremos nossas atividades com coragem redobrada.
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