Por Vanalda Gomes Araújo*
Dia 8 de Março, Dia Internacional da Mulher - esse dia, para nós mulheres amazonidas, é um dia de luta, resistência e reconhecimento. Resistência por continuarmos defendendo nossos territórios e nossos corpos, seja no campo ou na cidade, nas águas e nas florestas, somos Marias, Antônias, Martas, Evas, Ruthis, Joanas, Raimundas, somos mães, aquelas que trazem a luz, que cuidam, que amamentam, que amam, enfim, somos indígenas, quilombolas, pescadoras, domésticas, quebradeiras de coco, seringueiras, extrativistas, agricultoras, educadoras, benzedeiras, empreendedoras, mulheres do campo e da cidade, leigas que contribuem para o desenvolvimento em busca de direitos, que em sua maioria são negados, somos maioria neste chão sagrado chamado Amazônia.
Somos mulheres de vários cantos da Amazônia Legal, onde há uma diversidade de cultura, religião, saberes e aprendizado nos mais variados aspectos de conhecimento que se somam e fazem um espaço de riqueza e beleza.
Portanto, aqui quero refletir como essa mulher, que vai conquistando e se organizando em diversos espaços de lutas, onde a presença masculina é predominante muito por conta das raízes do patriarcado, como aqueles tidos como que são donos da verdade, que fazem o papel de desbravadores, que podem enfrentar qualquer situação. É bom lembrar que a Amazônia para muitos, sempre foi espaço de homens, pelo fato de ser uma região de conflito na sua dinâmica territorial. A disputar pela terra, o agronegócio, a pistolagem e o latifúndio avançando cada vez mais no chão sagrado, de e no entendimento de muitos, a mulher tinha que estar cuidando dos afazeres domésticos, e que a mulher não tinha e nem tem que estar nos espaços como igrejas, movimentos sociais.
Isso, não dar mais para a mulher viver (na verdade nunca deu) estamos vivenciando outro contexto de Igreja, outro contexto de sociedade, uma Igreja mais feminina de luta, de espaço onde ela possa ter vez e voz, que eu percebo, em minha trajetória em vários espaços que eu circulo, principalmente dentro da Igreja e dos movimentos sociais, onde as mulheres estão cada vez mais contribuindo para as mudanças de concepções, principalmente no âmbito educacional, religioso e no aspecto da economia e política (e sempre foram estrategicamente excluídas pelas sociedades machistas). São as mulheres que na maioria das vezes, estão nos enfretamentos de seus territórios, elas quem incentivam cada vez mais uma produção sustentável, a agricultura familiar, agroecologia, bem viver e cuidando da casa comum.
Aqui quero discutir e refletir um pouco sobre o papel da mulher amazonida dentro da Igreja Católica, como elas estão presentes desde a colonização da Amazônia até os dias atuais. Em minha percepção e análise, cursando uma disciplina do mestrado - Estado e Participação Popular na Amazônia -, percebi que a participação da mulher sempre esteve muito presente em todos os espaços amazônicos. Nós fazemos acontecer do nosso jeito, como queremos e com ousadia para que possamos nos ajudar e sermos ajudadas.
No final do século XVII e início do século XVIII, a religião que predominou na Amazônia, foi a religião católica, devido à forte presença dos capuchinhos, franciscanos e jesuítas no período do Brasil Colônia, então, nesse período a presença das Congregações masculinas era muito forte, até por conta do contexto que a Igreja vivia nesse período. Portanto, as congregações femininas na Amazônia foram e continuam sendo importantes na evangelização e na formação do povo amazônico, e essas congregações vieram com o intuito de evangelizar e educar, uma educação mais voltada para os afazeres domésticos, até porquê, estavam inseridos no cotidiano dessas mulheres.
Foi a Igreja que nos proporcionou esse espaço, foi a Igreja que nos formou lideranças corajosas, com o ardor missionário de sermos leigas e comprometidas com a ação evangelizadora na Igreja da Amazônia, para nós mulheres, a partir da chegada da Igreja Católica na Amazônia, o que eu vejo é a mulher muito mais presente que o homem, mulher essa que às vezes, assume o papel de coordenadora, catequista, na Pastoral da Criança, Mulheres que oram pelos filhos, mulheres do terço, mulheres no canto, pastoral da acolhida, dízimo, laicato, Santas Missões Populares, mulheres como ministras da palavra e comunhão, jovens mulheres na Pastoral da Juventude.
Foi a Igreja que nos proporcionou esse espaço, foi a Igreja que nos formou lideranças corajosas, com o ardor missionário de sermos leigas e comprometidas com a ação evangelizadora na Igreja da Amazônia.
Carregamos o compromisso das nossas comunidades mais distantes, onde quase não há a presença do sacerdote, às vezes, não que ele não queira ir, mas por uma questão geográfica e distância da sede da paróquia, que muitas vezes têm comunidades que ficam distante até 180 km, tento em vista o contexto geográfico da Amazônia.
É por isso, que a mulher é importante na caminhada de evangelização para a Igreja na Amazônia em vários aspectos. Portanto, às vezes não é fácil, ainda temos que lidar com certas situações por parte de alguns sacerdotes, não queremos tomar seu espaço, cada um tem o espaço dentro da Igreja. Nós mulheres não queremos isso, queremos sim, ser acolhidas, respeitadas para cada vez mais contribuir para o Reino de Deus nesse chão sagrado, cheio de desafios, mas também animador, que nos leve a reflexão: devemos seguir para nos tornarmos verdadeiras defensoras da missão de Jesus Cristo, que tanto acolheu e contou com a presença das mulheres em sua missão evangelizadora.
Vanalda Gomes Araújo*
Educadora e pesquisadora.
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